A catarata é uma das principais causas de perda de visão no mundo, mas também está entre as condições oculares mais tratáveis. O grande questionamento de muitos pacientes é se seria possível curá-la sem a necessidade de uma cirurgia.
A resposta exige uma análise cuidadosa do que a medicina já sabe, das pesquisas mais recentes e das estratégias que podem, no futuro, mudar a forma como essa doença é tratada.
Atualmente, não existe forma comprovada de curar a catarata sem cirurgia. O único tratamento reconhecido e eficaz para restaurar a visão comprometida pela opacificação do cristalino é a remoção cirúrgica da lente natural e a substituição por uma lente intraocular artificial.
Para entender melhor o cenário e as perspectivas, consultamos o oftalmologista Dr. Aron Guimarães, integrante do corpo clínico da Clínica Vizon. O especialista explicou que, apesar de não existir cura definitiva sem intervenção cirúrgica, a ciência investiga alternativas como colírios experimentais, terapias antioxidantes e tratamentos genéticos que, no futuro, podem permitir a reversão ou a prevenção da catarata em fases iniciais.
Por que a catarata ocorre
A catarata se forma quando o cristalino, lente natural dos olhos, perde sua transparência devido a alterações estruturais nas proteínas e fibras que o compõem. Essa opacificação impede a passagem adequada da luz até a retina, prejudicando a visão.
Entre as causas mais comuns estão o envelhecimento natural, traumas oculares, doenças sistêmicas como diabetes, uso prolongado de certos medicamentos e exposição excessiva à radiação ultravioleta.
Por que não existe cura sem cirurgia hoje
O cristalino opaco não recupera espontaneamente a transparência. Uma vez que as proteínas se agregam e a estrutura interna se deteriora, o processo é irreversível com as tecnologias atuais. Por isso, a única forma de restaurar a visão é substituir o cristalino afetado por uma lente intraocular.
Embora existam pesquisas promissoras, nenhuma alternativa não cirúrgica passou por todos os estágios de testes clínicos para ser aprovada como tratamento.
Pesquisas e alternativas em estudo
Gotas com lanosterol
Estudos experimentais mostraram que o lanosterol, um esteroide natural, pode ajudar a dissolver aglomerados de proteínas que causam a opacificação. Resultados positivos foram obtidos em animais, mas ainda não há comprovação em humanos.
Terapias antioxidantes
Suplementos e dietas ricas em antioxidantes, como vitamina C, vitamina E, luteína e zeaxantina, mostram potencial para retardar a progressão da catarata, mas não para revertê-la.
Terapias gênicas
Pesquisadores investigam como corrigir mutações ligadas à formação precoce de catarata. Essa abordagem ainda está distante da prática clínica, mas pode ser decisiva para prevenção no futuro.
Tabela: Alternativas estudadas x estágio de desenvolvimento
| Alternativa | Objetivo | Situação atual |
| Gotas com lanosterol | Dissolver proteínas agregadas no cristalino | Em testes pré-clínicos e clínicos iniciais |
| Antioxidantes | Reduzir o estresse oxidativo ocular | Comprovada apenas como prevenção ou desaceleração |
| Terapia gênica | Prevenir mutações que causam catarata | Em fase experimental |
| Nanotecnologia ocular | Entregar medicamentos diretamente ao cristalino | Em desenvolvimento inicial |
Quando a cirurgia é inevitável
Mesmo com avanços promissores, a cirurgia é inevitável quando:
- A visão está seriamente comprometida.
- Atividades cotidianas como ler, dirigir ou trabalhar ficam prejudicadas.
- Há risco de complicações devido à progressão da catarata.
Como funciona a cirurgia de catarata
A técnica mais utilizada é a facoemulsificação, realizada com anestesia local e de forma ambulatorial. O cristalino opaco é fragmentado por ultrassom e substituído por uma lente intraocular personalizada.
O tempo de recuperação costuma ser rápido e os índices de sucesso ultrapassam 95%, tornando o procedimento um dos mais seguros da oftalmologia.
Tipos de lentes intraoculares
| Tipo de lente | Características | Vantagens |
| Monofocal | Corrige visão para uma distância | Custo mais baixo |
| Multifocal | Corrige visão para várias distâncias | Reduz uso de óculos |
| Tórica | Corrige astigmatismo | Maior precisão visual |
| Acomodativa | Ajuste dinâmico do foco | Mais naturalidade visual |
Prevenção: a melhor estratégia até que a ciência avance
Enquanto não há cura sem cirurgia, é possível adotar medidas para retardar o aparecimento da catarata:
- Usar óculos de sol com proteção total contra UVA e UVB.
- Controlar doenças crônicas como diabetes e hipertensão.
- Ter uma dieta rica em antioxidantes.
- Evitar tabagismo e excesso de álcool.
- Manter consultas oftalmológicas regulares.
Diferença entre prevenir, retardar e curar
- Prevenir: evitar a formação da catarata.
- Retardar: diminuir a velocidade de progressão.
- Curar: eliminar a opacidade já formada, o que atualmente só é possível pela cirurgia.
Perguntas frequentes
Colírios vendidos como “cura para catarata” funcionam?
Não existe comprovação científica de que colírios possam reverter a catarata em humanos.
A cirurgia é definitiva?
Sim, o cristalino artificial não desenvolve catarata. Pode haver opacificação da cápsula posterior, tratada com laser.
A catarata pode voltar?
Não no cristalino artificial, apenas na cápsula, o que é corrigido com procedimento simples.
Conclusão
Hoje, a catarata não pode ser curada sem cirurgia. A única alternativa segura e eficaz é a substituição do cristalino por uma lente intraocular. Embora as pesquisas com lanosterol, antioxidantes e terapias gênicas ofereçam esperança para o futuro, ainda é cedo para substituir o tratamento cirúrgico.
A prevenção continua sendo a estratégia mais eficiente, combinada com diagnóstico precoce e acompanhamento oftalmológico regular. Assim, quando a intervenção for necessária, ela poderá ser feita no momento certo, garantindo os melhores resultados para a visão e para a qualidade de vida.

